Ele é a Maria Antonieta pop da Kirsten Dunst rodeada de macarons coloridos, biscoitos amanteigados, tortas amendoadas, gargalhadas, olhares ingênuos, mas insinuantes, e muita diversão.
É gulodice de confeitaria, daquelas pra saborear e, claro, mostrar. É gourmand aparecido, com delírios de grandeza, saias rodadas, organza delicada e champanhe com frutas adocicadas.
A abertura é minha parte preferida: camadas sobrepostas de uma cereja amendoada com cassis, numa mistura que me faz sentir o sabor de bala de goiaba (sim!) de festa de criança.
Esse doce frutal e cremoso é invadido por uma flor de laranjeira fresca, delicada e inusitada, que deixa o doce agridoce.
Um agridoce que dança com um pêssego suculento sendo, distraidamente, derramado num tapete de rosas macias, aveludadas.
A dança, que mais parece uma ciranda, começa a se desdobrar, e Maria Antonieta, tão festiva e espirituosa, rodopia, gulosa, com doces amendoados nas mãos.
A amêndoa, balsâmica e saborosa, pede a sua vez, junto com um almíscar bom moço, limpinho e bem comportado, mas disputa com a baunilha sobreposta pelo heliotrópio, numa leitura muito bem construída.
Não é a baunilha do bolo. É a baunilha levemente floral, suave, cremosa e balsâmica do tornassol.
A amêndoa ganha. A baunilha também: sinto um amendoado raro, adocicado, quente e confortável. Calda de chocolate, bolo caramelado e leite quente. O cheiro, juro, parece derreter na boca.
Segundos depois um benjoim aromático invade o salão, e logo o seu dulçor caramelizado fica vaporosamente picante e acrimonioso, como que pra instigar, pra se fazer notar.
E a gente nota, claro, mas nem ousadia dá…
Quando as cortinas se fecham e a mocinha coquete para de dançar, o que fica é um doce acolhedor, gustativo e levemente festivo.
Um doce alegre, para aqueles dias em que o que a gente mais quer é brincar, gargalhar, se deliciar. Porque não é todo dia que a gente sai com vontade de chegar e tombar, né?