Só hoje, depois de mais de um ano, consegui sentar aqui pra falar com vocês sobre uma coisa que pra mim era uma “fraqueza”: esgotamento mental.
Quando vasculho minhas memórias sempre vejo uma Julliana forte, que sempre fazia e dava conta de tudo, não importavam as circunstâncias.
Na verdade, o normal pra mim sempre foi ser “incansável”, dormir pouquíssimas horas por noite, virar noites estudando, passar 18 horas sentada em uma cadeira “produzindo” porque, afinal, a vida não espera.
Eu tinha (e tenho) sonhos a realizar, metas pra bater, responsabilidades e obrigações. E nunca me passou pela cabeça a possibilidade de não conseguir fazer tudo no prazo que determinei.
E não importava a que custo.
E bati muitas metas, realizei muitos sonhos, senti orgulho do quanto eu era “forte”, enfim.
O problema é que eu ainda não tinha entendido que não era uma máquina. Que existiam limites.
E aí, junto com dezenas de coisas maravilhosas que construí, veio junto uma porção de coisas que não apenas eu não queria, mas que negava.
Esgotamento Mental, prazer!
Afinal, o que poderia ser mais importante que tirar 10 em uma prova ou ter 1 milhão de acessos por mês no blog ( que logo depois foi pra 2, 3, 4, 5…), não é mesmo?
Me acostumei tanto a passar dia e noite estudando e trabalhando desde cedo que aos 30 eu mal conseguia sair de casa.
Pior: não via nada de errado. Achava ótimo, aliás, assim tinha mais tempo pra “fazer as minhas coisas”.
Meu corpo e minha cabeça com certeza achavam o contrário, e quando todos os médicos que fui repetiram que eu estava estressada, que precisava desacelerar e ter qualidade de vida achei que eles eram preguiçosos.
Porque né, “tudo agora é estresse”.
Pouco tempo depois tive falência adrenal. Era o corpo berrando. Comecei o tratamento medicamentoso mas não mudei meus hábitos.
Eu ria e revirava os olhos diante dessa possibilidade.
Aí veio a síndrome de Burnout, ” uma frescura, coisa de gente preguiçosa que fica criando desculpa e doença que não existe”.
Estava no máximo cansada, nada que uns dias de férias não resolvessem.
E até tentei tirar férias há uns anos, viajar, mas continuava trabalhando de lá.
“De repente”, com pouco mais de 30 anos, já estava repondo um monte de hormônios e tendo dezenas de sintomas. Era óbvio que a coisa não estava funcionando, mas eu não tinha tempo.
Aí comecei a “falhar”, a não conseguir dar conta de tudo. Logo depois veio uma crise de pânico. Era o calor, obviamente (contém ironia).
O tempo foi passando e no meio do ano passado tive uma viagem a trabalho. Estava em Vitória da Conquista e ia pra Brasília.
Peguei um táxi cedinho, sofri um sequestro relâmpago e passei mais de 1 hora presa em um carro. Durante esse tempo só conseguia pensar que tinha perdido o voo e chegaria atrasada pra fazer o trabalho.
E sim, peguei outro voo algumas horas depois, com 4 escalas, cheguei em Brasília as 23 h e fui direto pro local onde iria fazer a ação. E fiz, fiquei lá até as 5 a manhã.
Não me permiti sentir nada, engoli o choro, o medo, a raiva e todo o resto porque eu não tinha tempo pra isso.
E continuei empurrando com a barriga, sem conseguir dormir e sem conseguir acordar. Sem conseguir produzir. Sem me permitir viver.
A conta, ela chega!
Só que eu não só não enxergava isso como negava todos os diagnósticos possíveis.
Até um dia em que estava tão, mas tão esgotada que não consegui mais chorar. Nem levantar. Nem nada.
Ali, naquele momento, comecei a entender, ainda que superficialmente, o que estava acontecendo comigo.
E decidi, mais por medo que por qualquer outra coisa, me dar todo o tempo necessário, mesmo que isso fosse contra tudo o que eu acreditava. Me dar qualidade de vida.
E aí se passou um ano e agora sim me sinto melhor.
E muitas vezes quis sentar aqui e conversar com vocês. Falar que queria estar produzindo centenas de conteúdo o tempo todo, mas não conseguia.
Era inaceitável admitir que estava esgotada física e mentalmente, inclusive pra continuar, no mesmo ritmo, fazendo o que mais amava.
Não fazia sentido, sabe? Não fazia porque o blog me salvou de muito mais formas do que vocês podem imaginar. Mas naquele momento a única pessoa que poderia fazer isso por mim era eu.
Não foi fácil encarar minhas vulnerabilidades, não saber até onde meu corpo e minha cabeça iriam aguentar. E não era o momento, ainda, de falar sobre isso.
Não foi fácil ter milhões de dúvidas durante esse tempo e deixar de compartilhar um mundo de coisas com vocês, que sempre estiveram comigo.
Quase nada foi fácil, aliás, e tentei de todas as formas possíveis “manter a normalidade”. Não consegui, obviamente, mas fiz o que pude, tenham certeza disso.
E precisava, realmente, estar comigo. Me reencontrar, reconhecer, reconectar e, sobretudo, estabelecer limites. Enxergar uma Julliana além do trabalho e das obrigações. Aceitar me sentir cansada, compreender que tava faltando vida em mim, pra mim.
“Acho” que aprendi. E é bom que tenha aprendido mesmo porque não quero viver isso nunca mais.
E se posso dar um conselho a você é: se dê tempo, tempo pra viver, pra ser você. Respeite seus limites, vá com calma, o mundo não acaba hoje não…
E respeite o tempo das pessoas. Você não tem ideia do que pode estar acontecendo na vida do outro.
No mais, é isso. Tô de volta, tô me sentindo pronta pra isso. Com todo compromisso do mundo com vocês, mas com muito mais leveza. Como deve ser.
Amo vocês!
Beijos, Ju♥
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