Comentei tempos atrás Face que tava precisando de um “bolsa farmácia” por causa do preço do Venvanse (da Ritalina LA e do Concerta também!) e uma leitora, com o intuito de me preservar, ressaltou que era pra ter cuidado em falar sobre isso porque ainda existe muito preconceito com o TDAH, que, pra quem não conhece, é o Déficit de Atenção.
Agradeci de coração o cuidado, mas preferi fazer o oposto, porque não é um remédio que vai definir quem ou o que eu sou. Um remédio é só um remédio, e eu sou muito mais do que isso.
Muitas vezes questionei se isso era mesmo déficit de atenção porque pra mim parece meio lógico só prestar atenção no que me interessa, e até hoje acho a nomenclatura equivocada, mas isso também é uma besteira e não vou perder tempo com essas coisas.
O que é Déficit de Atenção
O fato é que, sim, eu tenho déficit de atenção e não vejo nada demais nisso. Vejo mais como um conjunto de características diferentes, com limitações um pouco diferentes, mas, afinal, quem não tem características e limitações diferentes?
Acho bobo isso de rotular, sabe? E não vejo isso como um “bicho de 7 cabeças”, mas como um “padrão diferente”, que precisa sim de “tratamento”, mas que, sobretudo, precisa ser encarado com leveza, com naturalidade, sem drama e sem fuê.
Meu maior problema em relação ao TDAH sempre foi a falta de organização, e isso é sim uma coisa muito complicada porque minha vida era um caos. Esquecia as coisas, me embolava, não conseguia ter um equilíbrio, sabe? Isso, assim como o fato de ser extremamente impaciente e muito impulsiva, gerou muitas coisas ruins, e só melhorou com o uso do medicamento.
Deficiência de atenção não é deficiência de aprendizado
Entretanto, nunca tive deficiência de aprendizado, ao contrário, sempre aprendi tudo muito rápido, mas do meu jeito, o que me interessava, o que chamava a minha atenção (matemática, obviamente, não era exatamente o que despertava a minha atenção, e não conseguia aprender!rs). Em compensação, não dava conta de prestar atenção numa aula inteira (exceto nas das minhas matérias preferidas), ficava inquieta, levantava várias vezes, o que era bem chato (principalmente para os outros).
Nada disso me impediu de estudar, fazer faculdade ou algo do tipo, até porque só fui começar a fazer o tratamento (de forma séria) bem depois de terminar a faculdade. Passei no vestibular sem precisar de cursinho, fiz Direito numa excelente universidade, era uma ótima aluna nas matérias do meu interesse e mediana nas outras e passei na OAB sem problemas.
Ou seja, o estigma de que uma pessoa que tem déficit de atenção é burra, como já ouvi várias vezes, é absurdo. Acredito que muitos dos “limites” somos nós que colocamos na nossa cabeça, e eu nunca acreditei em limites.
O tratamento do TDAH é essencial!
Assim como é absurdo ver pais que se recusam a, após o diagnóstico, tratar seus filhos porque “psiquiatra é coisa de doido” e “tarja preta é coisa de maluco”. Claro que existe um exagero na prescrição de Ritalina, que muita gente toma sem a menor necessidade e lógico que “nem tudo é TDAH”, mas eu, que conheço os dois lados da história, acho de uma negligência sem tamanho deixar de tratar o que precisa (e pode!) ser tratado por puro preconceito.
Se essas pessoas soubessem o quanto o tratamento adequado vai melhorar a qualidade de vida da criança (adolescente ou adulto) com TDAH, o quanto vai mudar a vida dessa pessoa, jamais fariam isso. Sabe, não faz sentido “sofrer” se tem como “não sofrer”, e sim, eu sou absolutamente a favor da “medicina do bem-estar”, porque se existem meios de proporcionar mais bem-estar, de melhorar a qualidade de vida, porque não fazer isso? Não entendo!
Tem anos que faço acompanhamento com uma neurologista, já passei por vários medicamentos pro TDAH, e hoje o que funciona bem pra mim é o Venvanse, que custa o equivalente a dois rins, mas faz uma diferença enorme na minha vida. Posso viver sem o medicamento? Claro que sim, mas prefiro, com certeza, viver com ele, porque me faz bem, porque me dá qualidade de vida e porque tudo fica mais “fácil”, como parece ser para as outras pessoas.
O que muda com o remédio para déficit de atenção?
O que mudou depois do medicamento? Tudo! Minha impulsividade reduziu drasticamente, assim como a minha impaciência. Ainda sou muito acelerada, continuo tendo o “hiperfoco” nas coisas do meu interesse, mas também consigo prestar atenção nas outras coisas, o que era inviável. Continuo desorganizada, mas muito menos que antes, e convivo melhor comigo mesma e com as outras pessoas, sobretudo porque a necessidade de estímulo o tempo todo reduziu bastante.
Venanse, ritalina e concerta
Muita gente fala dos efeitos colaterais desses medicamentos e a minha experiência é a seguinte: existe sim um período de adaptação, e no caso da Ritalina “normal” eu me sentia meio “instável”, porque o período de ação do medicamento é curto, mas no caso da Ritalina LA, do Concerta ou do Venvance a coisa muda completamente. É assim com todo mundo? Lógico que não, mas só posso falar da minha experiência.
Eu não tenho nenhum efeito colateral e mesmo que tivesse iria “pesar na balança” pra ver se os benefícios compensariam. Quanto a isso, aliás, é bom lembrar que praticamente tudo na vida tem efeitos colaterais, e isso não significa que eu tô fazendo “apologia” ao uso de medicamento, só estou dizendo que não acho lógico que alguém não se trate quanto pode se tratar e viver melhor.
Enfim, quis falar sobre isso porque já comentei várias vezes no Face e muita gente pedia pra que eu fizesse um post (já fiz um vídeo também sobre isso, veja aqui), e quem quiser mais informações sugiro dar uma olhada no site do ABDA (aqui) e também no livro da Dr. Ana Beatriz Barbosa ( o site dela é esse aqui), que é psiquiatra, tem TDAH e escreveu um livro bem legal sobre o assunto, o Mentes Inquietas.
Beijos
Ju