Não lembro de nenhum momento da minha vida onde não “esperassem” alguma coisa de mim e me cobrassem, vejam só, por coisas que eu nunca disse que queria ou prometi que faria. Pois é, as cobranças começam cedo, só aumentam com o passar do tempo, e assim que você faz algo do que acham que você deveria fazer, já tem uma novinha em folha na fila de espera.
E depois dos 30 a coisa piora, principalmente se você é do tipo que vai contra a maré e não está exatamente onde acham que você deveria estar.
Não está casada? Como assim? Aí você fala que não quer se casar e as pessoas te olham como se você tivesse dito “oi, eu sou um ET”. E se você quer casar, mas ainda não apareceu “a pessoa”, é porque, dizem as “más línguas”, tem algo de errado de você. Ahhh, ela é exigente demais, independente demais, trabalha demais e por aí vai.
E então você, casada ou não, diz que não quer ter filhos, e não passa pela cabeça das pessoas que essa é uma escolha sua, uma opção de vida. Não, elas acham que você ainda não amadureceu o suficiente, porque, afinal, toda mulher quer ter um filho.
E quer também uma casa enorme, todos os eletrodomésticos de última geração, férias na “praia do momento”, entretenimento 24hs por dia e coisas do tipo, e se você não vê lá muita graça em nada disso, as pessoas acham que você precisa de um psiquiatra, e com urgência, por favor!
Ah, e experimente abrir mão de uma profissão convencional, rentável e “respeitada” pra fazer algo assim meio sem definição ou sem a solidez de um salário certo no final do mês. Aí é um Deus nos acuda mesmo!
E isso sem falar que você tem o dever de ser linda, magra, divertida, bem humorada, equilibrada, boa amiga, boa filha, boa mãe, boa profissional, boa esposa e boa “todas as outras coisas”, e tudo junto ao mesmo tempo, porque né, você é mulher, já tem mais de 30 anos, e isso é o mínimo que você pode ser/oferecer.
E não, não adianta fazer tudo certinho como manda o figurino, porque as pessoas andam tão sem noção de limites que se acham no direito de, só pra dar um exemplo, te atacar porque você escolheu ter um filho de parto cesário e não normal, porque o parto alheio não é uma questão de foro íntimo, mas sim de interesse público, afinal todo mundo sabe que mãe só é mãe se “parir” normal. Isso em pleno 2015, dá pra acreditar?
Pois acreditem, e eu garanto que a coisa é muito pior.
O mundo mudou muito nas últimas décadas, mas a grande maioria das pessoas ainda não sabe lidar com escolhas diferentes, com algo que vá além do que, para elas, é o esperado. O problema é que cada um tem seu próprio caderninho de como o outro, vejam só, deve viver a própria vida, e nesse jogo todo mundo se julga e todo mundo está, aos olhos de uns ou de outros, sempre errado.
Pior, as pessoas ainda não entenderam que cada um deve cuidar da própria vida e só dela, que as escolhas do outro são dele e não dizem respeito a mais ninguém.
Parece uma coisa simples, certo? Errado, porque somos, quase todos, censores da vida alheia, e cuidamos tanto da vida de tanta gente que esquecemos de cuidar da nossa. Ah, mas não se preocupem, sempre tem um batalhão pra cuidar por nós… E assim caminha a humanidade.
O que fazer, então? Vai por mim, amiga: tape seus ouvidos pro burburinho da opinião alheia, porque é a sua vida e você deve vivê-la a sua maneira, pra satisfazer a si mesma e não aos outros, porque já que hoje temos tanta liberdade pra escolher quais caminhos trilhar, que tenhamos a coragem de bancar essas escolhas!
+ Mulher de 30
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Beijos, Ju ♥