Dia desses, conversando com os meninos aqui, um deles me disse que a timeline do Facebook era “o mapa desenhado da depressão”.

Fiquei sem entender e ele explicou que todas as vezes em que “entrava” ali ficava péssimo, pois todas as pessoas eram lindas, bem sucedidas, bem vestidas, viajadas, vitoriosas e perfeitas, e isso o tempo todo, enquanto que ele não passava de um advogado de 30 anos que estava longe de ser lindo e malhado,  que não tinha tempo pra viajar, porque trabalhava demais, que sempre chegava ao final do dia com a camisa amassada e a gravata fora do lugar, que cometia muitos erros, se enganava todos os dias, perdia a paciência quase sempre e tinha dúvidas o tempo todo. Enfim, ele era “gente”, era imperfeito, e todos os outros pareciam deuses.

Claro que dei risada na hora, porque pra mim é bem óbvio que rede social passa longe da vida real, e achei uma besteira alguém se incomodar com tudo isso, mas quando parei pra pensar, vi que fazia sentido, e muito.

Mas, isso não é “fenômeno” recente, isso existe desde sempre.  Prova disso é que muitas décadas atrás Fernando Pessoa escreveu o Poema em Linha Reta, e é incrível como esse “poema” se encaixa perfeitamente no que a gente vive hoje na era das mídias sociais.

Pra quem não conhece, eis alguns trechos:

” Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.

“Toda a gente que eu conheço e que fala comigo, nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana, que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos.

Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?”

Bem atual, né? Pois é… Faz parte da natureza humana querer mostrar só o melhor, e não acho isso errado não. Errado é vestir a carapuça da perfeição, bancar o hipócrita e apontar o dedo para os erros dos outros quando a gente comete os mesmos, ou outros bem piores.

Afinal, quem nunca cometeu erros aqui? Quem nunca meteu o pé pelas mãos, julgou errado, fez coisas das quais não se orgulha?Pra ser mais rasa, quem nunca vestiu uma roupa horrorosa, foi brega por uns dias,  teve gosto duvidoso ou pagou micos gigantescos?

Gente, tudo isso é normal, e não tem nada demais. Faz parte do “processo”, sabe?

Não vejo nada demais em mostrar a parte boa, mas acho estranho que se mostre só isso, porque nós não somos só isso, nós somos muito mais, e essa necessidade de expor a vida, mais que isso, de expor uma vida supostamente perfeita me parece “o Fantástico Mundo de Bob”, pra dizer o mínimo.

A verdade é que a vida de ninguém é perfeita, e que bom que é assim, porque senão não existiria crescimento, não teria razão nenhuma pra ninguém estar aqui.

Todo mundo tem falhas, todo mundo tem dores, todo mundo tem perdas, todo mundo toma fora, todo mundo é rejeitado, todo mundo paga mico, todo mundo é mocinho e todo mundo é bandido. Ninguém acorda lindo todos os dias, ninguém é sarado a vida toda, a vida profissional não é sempre um mar de rosas, e a vida pessoal menos ainda.

Precisa expor tudo isso e passar o dia se lamentando na timeline do Facebook? Não, de jeito nenhum, e isso também é péssimo. Afinal, tem coisa pior que gente que, ao invés de cuidar da própria vida, tentar se superar e lutar pelos sonhos passa o dia enchendo o saco dos outros com a mesma ladainha pessimista de sempre? Detesto, porque não é só encheção de saco e perda de tempo, é perda de vida, e isso é lastimável.

Não, não acho que rede social é lugar de expor a vida, nem a parte boa nem a parte ruim,  mas é lugar pra ser o que nós somos: humanos.

Beijos e bom sábado!

Ju