Dia desses estava conversando com uma amiga, dona de loja, e ela começou a reclamar da crise, da queda nas vendas e da concorrência, e resolvi fazer uma pergunta que martela na minha cabeça faz tempo: porque 99% das lojas só vendem roupas pra um tipo específico de “corpo”?
Ela respondeu que o nicho dela não era plus size, e eu disse que não estava falando disso. Expliquei, então, que na maioria das lojas que entrava não existiam roupas pra quem não fosse do “tamanho certo” e com medidas que se encaixem no, supostamente, ideal.
Ela me disse que isso não existia, que era coisa da minha cabeça, e como achei que ela não estava entendendo, resolvi exemplificar com amigas em comum: falei da Sara, que é magra, mas bem alta, e tem a maior dificuldade do mundo em encontrar uma calça que não fique “no meio da canela”, um vestido que fique no joelho e não na coxa, uma camisa social que consiga “chegar” ao punho. Ela é advogada e faz roupas sob medida, pois raramente encontra alguma coisa que sirva.
Falei da Daiane, pequena e magrinha, que só encontra jeans em lojas para crianças e adolescentes. Falei da irmã dela, a Larissa, que, assim como eu, tem o quadril bem grande, as coxas grossas e a cintura fina, corpo que, aliás, é comum por aqui. A Larissa tem a maior dificuldade em encontrar calças ou shorts, e a solução é comprar 2 números maiores e mandar ajustar na cintura.
Esses são apenas 3 exemplos de uma realidade muito maior, de uma parcela gigante da população que não se encaixa no que é vendido nas lojas. Só pra dar uma noção mais exata, os dados oficiais apontam que mais de 52,5% da população está acima do peso, o que significa que mais da metade das pessoas do país, logo de cara, não cabem, via de regra, no que é vendido nas lojas, que raramente vai além do 46.
Mas ó, nem é preciso fuçar dados e pesquisas, é só sair do automático e olhar para os lados pra perceber que a grande maioria simplesmente não se encaixa no tal do padrão, da modelagem ou de sei lá o quê que é vendido.
E sabe o que é mais engraçado? É que essa parcela gigante de mulheres é tão (ou mais) consumista que as que “se encaixam”. Essas pessoas estão sedentas por ter o que nunca tiveram: roupas que lhe sirvam. Só que elas não acham.
E nem venham me falar em lojas específicas para as magrinhas, para as pequenas, para as altinhas ou para as gordinhas, porque na minha cabeça loja de mulher tem que vender roupa de e para mulher, e uma mulher não deixa de ser mulher por ser mais ou menos alta, mais ou menos magra, mais ou menos gorda e por aí vai.
Sim, eu sei que é impossível que em uma única loja a gente encontre peças que caibam perfeitamente em todo tipo de corpo, até porque são dezenas de particularidades, mas é preciso ampliar o leque de opções, mudar as fórmulas e criar coisas novas, porque a forma como a coisa funciona hoje não representa grande parte da população.
A mim, pelo menos, não representa, e o que parece é que, implicitamente, estão me dizendo que a menos que eu me adeque a “modelagem ideal”, eu simplesmente não o direito de escolher o que vestir, eu tenho que me contentar com o que achar, com o que der, porque simplesmente não tenho outra opção.
Tem coisa mais cafona e limitada que isso? Tem não!
Beijos, Ju♥