Cada vez mais a gente fala sobre relacionamentos abusivos, mas o foco, quase sempre, são os amorosos, quando, na verdade, qualquer tipo de relação pode ser abusiva. Sim, existem familiares abusivos, colegas de trabalho abusivos e, também, amizades abusivas.
E é sobre amizades abusivas que quero falar hoje, já que, a essa altura do campeonato, não era algo que eu imaginasse que pudesse viver.
Vivi esse tipo de situação quando era mais nova, de maneira muito mais branda, e mesmo assim demorei anos pra entender e me recuperar, porque, não se engane, quanto mais sutil é a coisa, mais demora pra que a gente caia na real. E maior é o estrago.
Eu conhecia exatamente os “sinais”.Tinha absoluta consciência da importância de escolher criteriosamente com quais pessoas dividir a minha vida, porque amigo, pra mim, é sagrado. Amigo é a família que realmente importa, é companheiro, parceiro de vida.
E, ainda sim, de alguma forma que não consigo compreender, eu não vi, não percebi e sucumbi.
Porque a coisa é muito, mas muito sutil…
Sobre amizades abusivas
A pessoa parece realmente gostar e se preocupar com você. E por achar que é preocupação, que ela quer o seu melhor, você começa a absorver as “observações” feitas constantemente, sempre focadas no que “está faltando”, no que você “precisa melhorar”, porque nada é bom o bastante.
Você não é bom o bastante.
E não importa quantas coisas incríveis você faça, quantas pessoas reconheçam o seu valor, a sua capacidade ou qualquer outra coisa, ela sempre vai, sutilmente, minimizar, desmerecer, desvalorizar.
E depois de um tempo, sobretudo quando trata-se de alguém que você admira, você começa a acreditar. Acredita que não está à altura, que não é bom o bastante, que não é capaz… E passa a se anular.
Quando chega nesse ponto, minha amiga, sua insegurança já está no topo, a autoestima no chão e você, cheia de dúvidas e medos, simplesmente para de acreditar em si mesma.
Mas não para por aí…
Sabe as suas conquistas? Parecem não existir. Sabe a tua vida, as tuas histórias? Ela não tem o menor interesse. Sabe as tuas dores, aquelas que te despedaçam? São invisíveis pra ela, que sempre está ali falando e descarregando em você todos os problemas do mundo.
O que você faz? Escuta, pontua, apoia, porque amigo é, também, pra isso, né? E como acha que ela é sua amiga, e faz parte do pacote entender as limitações do outro, se engana dizendo que é falta de tempo, e se recusa a enxergar.
Porque enxergar significa assumir a responsabilidade por tudo isso, por ter permitido que isso acontecesse. Por ter sido fraco.
Eu já tinha entendido, meses atrás, o quanto aquela pessoa me fazia mal, o quanto aquilo era tóxico. A minha intuição, aliás, gritava enlouquecidamente, mas só consegui colocar um ponto final quando, já esgotada emocionalmente, ouvi mais uma vez as coisas de sempre e tive uma crise no meio da rua.
Sabe quando você não consegue respirar? Quando você chora de soluçar até, literalmente, cansar? Foi isso. E só aí consegui me afastar, sobretudo emocionalmente.
No entanto, ainda questiono, como num post que escrevi aqui, que droga de carência é essa que faz com que a gente finja não perceber determinadas coisas, sabe? O que é isso que faz com que a gente aceite menos, muito menos, do que dá? Que medo é esse que nos faz manter na vida, como protagonistas, aqueles que sequer deveriam estar por lá?
E me pergunto como, logo eu, tão firme pra tantas coisas, tão da turma do “comigo não”, que não aceito ter o espaço invadido, o tom de voz alterado, que não negocio respeito, me deixei levar…
Ainda não tenho a resposta, mas estou buscando-a, pra aprender de vez a lição.
E vocês, em algum nível, já passaram por isso? Se quiserem ler mais posts como esse é só clicar aqui e/ou participar do nosso grupo fechado lá no Facebook, o Mulher de 30.
Beijos, Ju♥
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