Por algum tempo tive medo da sua chegada e bolei planos mirabolantes pra te deixar bem longe de mim. Pensei em cremes e mais cremes, procedimentos de todos os tipos e até Durex se fosse preciso, mas você, minha primeira ruga, chegou, e chegou tão cheia de histórias, tão cheia de beleza que desisti de me livrar de ti.
Talvez eu tenha mudado, ou talvez tenha entendido coisas que não entendia antes, não sei, mas o fato é que enquanto as linhas finas me assustavam e as marcas de expressão me faziam rir ainda mais, deixando tudo ainda mais marcado, você, que é mais profunda, sempre me deu medo, sobretudo a primeira.
Um brinde a ela, minha primeira ruga!
Mas aí você foi chegando devagarzinho, ali no cantinho dos olhos, e todas as vezes que eu te via lembrava das gargalhadas maravilhosas que já dei, e de todos os risos e sorrisos que me aqueceram o coração. Das coisas tristes e dolorosas, mas necessárias pra moldar a pessoa que sou hoje. E de tantos e tão incríveis momentos que já vivi, porque você é, em último caso, uma contadora de histórias, da história da minha vida.
E foi aí que me apaixonei por você, porque você, olha só, foi formada por cada expressão do meu rosto e da minha alma ao longo desses 33 anos anos, você “trabalhou” arduamente durante anos a fio, então não, eu não vou me livrar de você.
Vou fazer o que a gente faz com o que é precioso pra gente: entender, cuidar, proteger. Porque a gente envelhece mesmo, e eu quero envelhecer. Mas, mais que isso, quero saber envelhecer, e envelhecer bem, não só aceitando, mas amando a beleza de cada fase.
Quero que meu rosto tenha expressões, que não seja paralisado pelo uso excessivo de procedimentos estéticos. Quero que meu rosto conte histórias. Quero olhar pra você, e pra todas que vierem depois de você, e sentir orgulho da vida que vivi e que está estampada na minha cara.
Eu não quero ser uma mulher de 33 com cara de 15, eu não quero ser uma boneca de cera. Não, de jeito nenhum. Eu quero ser uma mulher de trinta e poucos anos que pareça uma linda e bem cuidada mulher de trinta e poucos anos. Com uma pele viçosa, bonita e bem tratada, mas nunca esticada, paralisada e com a tristeza de não poder contar histórias.
Quero olhar no espelho e continuar me reconhecendo. Quero saber que sim, o tempo está passando, as marcas estão ficando, e que tudo isso é bonito demais pra ser apagado ou jogado fora. Porque sou eu, porque é você contando, de traço em traço, a história da minha vida.
Vou continuar fazendo laser, peeling e pretendo começar o botox preventivo, uma vez ao ano, mas jamais pra te esconder, pra te apagar, pra evitar que você surja. Quero apenas que você venha de forma suave e delicada, e seja muito bem tratada, pra que continue contando as minhas histórias da forma mais bonita que for capaz.
Seja bem-vinda!
Beijos, Ju♥